Declaração de San José de Costa Rica
As pessoas intersex, reunidas entre 1º e 3 de março de 2018, em San José de Costa Rica, na primeira Conferência Regional Intersex, celebramos, neste primeiro encontro, a pluralidade dos nossos corpos e a diversidade das nossas vozes. Desde a força coletiva deste espaço, denunciamos, hoje, todas as formas pelas quais nossas experiências foram histórica e repetidamente colonizadas, desde a invasão de nossas terras até a invasão de nossos corpos. Reconhecemos as múltiplas maneiras pelas quais nos nomeamos em nossas línguas nativas, assim como em espanhol e em português, e exigimos que essas formas sejam reconhecidas, sem submetê-las à colonização do inglês.
Reconhecemos, também, a longa história de nosso trabalho político, e exigimos o reconhecimento internacional dessa história. Nossa Conferência Regional Intersex unanimemente adere à Declaração do 3 Fórum Intersex de Malta, e faz as seguintes convocatórias:
Convocamos os Estados a:
- Proibir, imediatamente, qualquer prática que modifique as características sexuais de uma pessoa sem razões médicas irrefutáveis e sem o seu pleno consentimento informado.
- Abolir o sexo como categoria legal a ser registrado em documentos oficiais (certidão de nascimento, carteiras de identidade, passaportes, etc.)
- Rejeitar as designações de “terceiro sexo”, » sexo indefinido «, «sexo indeterminado», «sexo ambíguo» ou similares, no nascimento, assim como a prática de deixar em branco o espaço correspondente à designação de sexo no momento do nascimento, na medida em que tais registros não refletem a diversidade de corpos que habitamos e violam nosso direito à privacidade. Considerando que, atualmente, em nossos países, é obrigatório inscrever os recém-nascidos em um sexo, recomendamos que seja designado o masculino ou o feminino, de acordo com as melhores expectativas, sem que isso envolva a modificação de nossos corpos intersex com a finalidade de adaptar as formas corporais às noções do que se acredita que deveria ser um corpo tipicamente masculino ou feminino.
- Garantir o acesso de todas as pessoas a múltiplas opções para o reconhecimento legal de sua identidade de gênero através de procedimentos administrativos simples, gratuitos e sem outros requisitos além da vontade da pessoa que o solicite.
- Assegurar o direito de todas as pessoas submetidas a práticas de modificação de suas características sexuais a acessar a verdade sobre seu nascimento, sua designação de sexo, seu diagnóstico, as práticas realizadas e sua justificativa, bem como os nomes das pessoas envolvidas em tais práticas e no seu acompanhamento.
- Reconhecer as consequências profundamente negativas da patologização de nossos corpos para nosso acesso à educação e ao emprego, e implementar políticas concretas e efetivas de reparação.
- Incorporar a diversidade corporal, incluindo a diversidade das características sexuais, em todos os programas de formação e em todas as políticas públicas.
Convocamos as Instituições Nacionais e Regionais de direitos humanos a:
- Investigar as violações sistemáticas de nossos direitos humanos e elaborar informes específicos sobre essas violações, bem como dar seguimento aos informes que os movimentos intersex apresentam.
- Organizar espaços de exposição (tais como os Tribunais de Direitos Humanos), onde quem sofremos as citadas violações possamos torná-las públicas.
- Compilar dados que ajudem a formulação de Políticas Públicas a favor das pessoas intersex.
Convocamos as Financiadoras a:
- Incrementar o apoio a nossos movimentos.
- Reconhecer que tais movimentos dependem de maneira fundamental de ativistas que, em sua maioria, não dispõem dos recursos básicos para garantir sua subsistência, e apoiar o crescimento pessoal e profissional através de recursos individuais e não apenas coletivos.
Convocamos nossos Movimentos aliados a:
- Reconhecer a especificidade das questões que nos afetam.
- Respeitar rigorosamente nossos espaços, processos e decisões.
- Evitar de todas as formar impedir, distorcer ou usurpar nossas visibilidades e nossas palavras.
- Unir-se ao nosso trabalho.
Convocamos os Meios de comunicação a:
- Evitar a estigmatização, o escárnio e a ridicularização, a desinformação e a representação distorcida de nossos corpos, identidades, sexualidades e demandas políticas.
- Contribuir para visibilizar nossas realidades.
- Colocar um ponto final à prática de nos obrigar a entrar em confronto com aquelas pessoas que violaram nossos direitos humanos e/ou que defendem tais violações (sejam essas pessoas profissionais de saúde, familiares ou outrxs).
Convocamos as Instituições de Saúde a:
- Cessar, imediatamente, qualquer prática de modificação das características sexuais que não seja realizada devido a uma necessidade médica irrefutável e sem o consentimento informado da própria pessoa.
- Cessar qualquer prática de fotografia, filmagem e (ou) exposição que não sejam explicitamente consentidas pela própria pessoa a ser fotografada, filmada e (ou) exibida.
- Assegurar o acesso de todas as pessoas a suas histórias clínicas completas.
- Garantir o acesso de todas as pessoas à informação verdadeira e compreensível sobre as características sexuais e suas manifestações ao longo da vida, as práticas destinadas a modificá-las e suas consequências, bem como sobre as diferentes opções disponíveis.
- Instruir sua equipe a respeito do tema da intersexualidade desde uma perspectiva dos Direitos Humanos, de modo a oferecer uma atenção libre de discriminação a todas as pessoas intersex.
- Garantir que não sejam propostas cirurgias e outros tratamentos medicamente desnecessários às pessoas intersex que frequentem instituições de saúde na adolescência ou na idade adulta, a menos que a pessoa os solicite explicitamente, independentemente se o corpo intersex dessa pessoa tenha passado por intervenções ou se mantém intacto. Em vez disso, que tais instituições ofereçam informações sobre organizações intersex locais, nas quais possam encontrar assessoria e apoio entre pares.
- Capacitar a equipe médica no que se refere às variações congênitas das características sexuais, para que possam prestar uma atenção informada, digna e eficiente a todas as pessoas intersex. Incluindo, principalmente, ginecologistas e outros especialistas.
Convocamos nossas famílias a:
- Escutar-nos.
- Escutar e (ou) oferecer apoio a outras famílias.
- Unir-se a nosso trabalho para desmantelar as violações de direitos humanos que nos afetam.
- Estudar sobre o assunto a partir da informação produzida pelo ativismo intersex.
Convocamos as outras pessoas intersex:
- A formar grupos de pares e (ou) a integrar os que já existem.
- A buscar e (ou) oferecer informações, contenção e suporte.
- A documentar nossa existência através da fotografia, vídeo, escrita, compilação de arquivos, história oral e qualquer outra forma de registro.
- A respeitar a diversidade de nossos corpos, identidades, expressões, sexualidades, sentimentos, formas de nos nomearmos, experiências, trajetórias e decisões.
- A somar-se ao trabalho local, regional e internacional, a fim de efetivar nossos direitos humanos.
San José de Costa Rica, 3 de março de 2018
Traducción: Paula S. Machado
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Olá, boa noite. Gostaria de saber se haverá tradução simultânea para o português no evento. Aguardo resposta.
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Este evento já aconteceu, foi de 1 a 3 de março
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[…] a 1ª Conferência Regional Latinoamericana e do Caribe de Pessoas Intersexuais, da qual resultou a Declaração de São José de Costa Rica, que expressa uma visão não hegemônica dos direitos das pessoas intersexuais e com variações […]
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